PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Escreve-me ...




Claudio Caldas Faria






Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me! Há tanto,há tanto tempo
Que te não vejo, amor!Meu coração
Morreu já,e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!"Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

Florbela Espanca

Adolescência presente



Jorge Morais





adolescência presente
maturidade adiada
espelha no corpo
formosura ostentada
saliências perfeitas
em seios transformados
que dias passados
serão pão serão vida
em seiva transformados
anseio de graúdos
fonte de nados
sopras ao vento
plumas encantadas
questionas o tempo
num esvoaçar
de penugens amofinadas
e vês que a flor
de beleza ostentada
lhe basta uma exalação
para passar de perfeição
a nada


Eu, Por Mim


Orlando Costa Filho




ele é a moringa e é a fonte
de onde descem águas de muito longe
como a sede, vem de eras ancestrais...

tem um jeito de ser
um jeito de estar
- é o jeito do seu jeito

é desigual, apesar das semelhanças
é semelhante, apesar das diferenças
contudo, cada um é único na mesma dança

singra ruas avenidas
singe as multidões
desafia o que lhe sangra o coração

solfeja melodias
se alimenta de poesia
sua alcova é a solidão

gracioso e serelepe
perde o fôlego em Drummond
se vê n’O Lobo da Estepe

em noites litorâneas, mete a cara na farra
no frio das montanhas dorme genuíno
à tarde sem alarde vai de capuccino

escreve versos obedientes: métrica, rimas e ritmo
encontra-os no mar no ar no bosque
e às vezes ao espelho vê um Bukowski

pula da janela feito fênix
sob olhares tantos e tontos
avoa em Little Wing um som do Hendrix

some nights and days
impressiona-o o McCartney
apaixonado, enternecido fica;

noutras, porém, traz consigo tanto afeto
que em contraponto com o mundo abjeto
se consola junto ao Lennon

ele é torto sem margem
está sempre à margem - um pária
em atitude involuntária sinuoso

do amor por mulheres - o gênero – não conhece
apenas uma espécie – a do quando
a do eterno – não entende - arrefece...

ri e dança qual criança
seu olhar traz um quê d'esperança
e um dos gumes de um punhal

prefere o repúdio à indiferença, ainda assim
quer abrigar-se em seu abraço
mais baunilha menos agre – é doce...
doce feito aço

ocf

Busquei


Maria Salete Ariozi






Busquei, num espaço incontido
Num tempo perdido um brilho.
Que me fizesse viver outra vez
Renascer num suspiro, aliviando
A dor no seu riso. 

Busquei, no amor um encanto
Que me levasse ao encontro
De um passado esquecido.

Busquei, no abraço apertado
A carícia do corpo anestesiado
Sem nenhum sentido.

Busquei, no gosto do teu beijo 
O desejo aflorado, num gemido
Jamais esquecido. 

Busquei, nos teus olhos o brilho
Do luar ofuscado, quase um grito 
Desgastado num pranto acabado.

Busquei, no teu colo um consolo
No teu corpo o calor desejado 
O delírio de um amor vivido. 

Busquei, um refúgio para a alma
Num acalento que só acalma
Jogando-me de volta sempre
Aos braços teus. 

((Salete)) Jun-2012


Leonardo da Vinci


Mô Schnepfleitner

‎"Uma vez que você tenha experimentado voar, você andará pela terra com seus olhos voltados para céu, pois lá você esteve e para lá você desejará voltar."

Leonardo da Vinci

Amar


Maria Salete Ariozi




Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

(Florbela Espanca)

Prazer & Tédio




Orlando Costa Filho





tênue liame
prazer & tédio
um gole um tiro 
e tudo que apraz
é sempre relativo
o tédio-água
o vinho vira 
o bom remédio 
se irremediavelmente 
o espírito é livre e opta 
por ser feliz sabendo 
que tudo o mais
está por um triz
se a árvore da fé 
enverga ante um vento 
inesperado e adverso
e se parte na raiz

ocf

Noite e Saudade




Ereni Wink




A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra , que inunda de amargura...
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!...Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que eu tenho!!

Florbela Espanca

A hóspede





Angela Mendes





Não precisa bater, quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
Sobre o pilar, ao lado da cancela,
E abre com ela
A porta baixa, antiga e silenciosa.
Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
O cântaro de barro e o pão de trigo.
O cão amigo
Pousará nos teus joelhos a cabeça.
Deixa que a noite, vagarosa, desça.
Cheiram a relva e sol, na arca e nos quartos,
Os linhos fartos,
E cheira a lar o azeite da candeia.
Dorme. Sonha. Desperta. Da colmeia
Nasce a manhã de mel contra a janela.
Fecha a cancela
E vai. Há sol nos frutos dos pomares.
Não olhes para trás quando tomares
O caminho sonâmbulo que desce.
Caminha – e esquece

Guilherme de Almeida

Romance na Jangada do Caymmi


Orlando Costa Filho


Singela homenagem a Dorival Caymmi


a jangada navega sobe desce as vagas 

a vogar a vogar
é jogada a bombordo a boreste o leste
é solar é solar
no convés não convém se postar de viés
se ventar se ventar
o olhar no horizonte e os cabelos na praia
vem do mar vem do mar
alastra o pescado o peso das dores
lastrear lastrear
não marear pode ser não sonhar
não cantar não cantar
canções salpicadas de cristais ritmadas
violar violar
o entorno de nós que é de céu é de mar
adernar adernar
corsário e sereia, uma estrela no ar
adornar adornar
a tarde já tarde que cai de covarde
já se vai já se vai
espreme laranjas entre o dia e a noite
vem luar vem luar
o vento adormece e se esquece de nós
acalmar acalmar
eu-falo e tu-fenda, eis a senda que eu sondo
vou te amar vou te amar
cambraia de seda noturna balança
vem dançar vem dançar
espadana prazer minha dama e dona
não soltar não soltar
o enlace o enleio sem receio abrasar
só gozar só gozar
amansar com ternura até o sol despontar
apontar apontar
a proa pra volta casados pra casa 
e só lar e só lar...

ocf

Brasil






Paula Teixeira




Eu tambem vou cantar-te nos meus versos
Brasil , terra boa e gostosa !
Quando me fui, só a tristeza me sorriu
Quando chegar, 
Desejo os teus pés beijar
Nas profundezas da tua terra repousar
E se for possivel , nunca mais te abandonar!
Brasil, meu pai Brasil 
Minas, mae Minas
Eu de menina !
Comendo queijo
Sonhos recheados de desejo
Jogando agua com a mangueira
Subia uma poeira de terra vermelha
Encantos mil...
Raios e relampagos , chuva forte!
Que Deus me livre da morte!
Rios de lagrimas , eita cachaça brava!
Pai e mae !
E eu o pequeno fruto da tua criaçao!
Chora coraçao...

Paula Teixeira

Floresta









Numa floresta húmida e sombria,
Há árvores com uma copa imensa,
Tornando-a hermética e densa,
Fechando a entrada à luz do dia!

Em noites de lua cheia se ouvia,
Cânticos infernais e a presença,
Das bruxas, à espera da recompensa
Que o diabo-mor lhes prometia!

É ali que nos casos mais insólitos,
Reúne Belzebu os seus acólitos, 
Com vampiros e abutres à mistura!

Nesta reunião onde a matéria,
Não visa acabar com miséria
Mas semear miséria com fartura!

A. Bastos (Júnior)

Mulher



Ereni Wink





Que mulher é essa em minha cama
Que quando a toco seu corpo se inflama
Acende meu desejo com volúpia
E bem baixinho... Pede me ame

Extasiado com sua entrega eu me doo
Esquecendo-me do mundo que nos rodeia
Entre lençóis azuis me possues
Envolvendo-me mais uma vês na sua teia

Mulher fatal... De onde eres
Teu brilho ofusca até as estrelas

FLORIANOPOLIS 14 06/2012 Ereni Wink


Tempos Idos





Claudio Caldas Faria





Não enterres, coveiro, o meu Passado,
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo d'essas crenças que passaram,
E quero sempre tê-las ao meu lado!

Não, não quero o meu sonho sepultado
No cemitério da Desilusão,
Que não se enterra assim sem compaixão
Os escombros benditos do Passado!

Ai! não me arranques d'alma este conforto!
- Quero abraçar o meu Passado morto
- Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!

Deixa ao menos que eu suba á Eternidade 
Velado pelo círio da Saudade, 
Ao dobre funeral dos tempos idos!

Augusto dos Anjos

Quando ela dança



Ereni Wink





De que material é feita a dama
Que, nos salões, derrama o charme, brilha?
Qual ostentoso Deus, quem teve a filha
E, a ela, transmitiu eterna chama?
...
D'onde vem a energia que lhe inflama?
Que lugar, dentro dela, esconde a pilha?
Quando ela dança, o meu coração trilha
Uma esperança, igual a de quem ama.

Há motivos demais para adorá-la:
No brilho de seus olhos, na lembrança
Do perfume envolvente, que ela exala,

Do sorriso inocente, de criança,
Na boca de quem canta, enquanto fala,
No corpo de quem cala, quando dança.

Bernardo Trancoso

Sinto



Maria Salete Ariozi




‎...SINTO SAUDADE DE TUDO QUE 
MARCOU A MINHA VIDA.
QUANDO VEJO RETRATOS,
QUANDO SINTO CHEIROS,
QUANDO ESCUTO UMA VOZ,
QUANDO ME LEMBRO DO PASSADO,
EU...SINTO SAUDADES !

CLARICE LISPECTOR.


Alma de Borboleta





Lúcinha Santos




Esta minha alma de borboleta
me inventa, reinventa
e me aproveita
transformo choro em risos
transformo dor em esperança
e o melhor de tudo
transformo meus dias cinzas em azuis
e tudo vira em flor, em primavera.

..................Lú.

Primavera




Ereni Wink



É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheio a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, a tua espera...

Pus rosas cor-de-rosa em em meus cabelos...
Parecem um rosal!
Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...
Florbela Espanca 

De Todas as Formas de Amar


Carlos Menino Beija-flor





Das perguntas que me fazem
nem todas uso a razão
porque não sou dono da verdade,
apenas do meu coração.
Quando eu faço amor?
Quantas vezes faço amor?
Onde eu faço amor?
Como eu faço amor?
Melhor jeito, melhor clima?
Papai-mamãe, mamãe em cima
beijando de frente, olhando por trás.
Eu respondo: Tanto faz!
Não sei pra quê tantas perguntas.
Quando duas pessoas estão juntas
não importa coisa nenhuma,
todas as noites merecem bodas,
por isso minha resposta é sempre uma
de todas as formas de amar...
eu prefiro todas.


Liberdade


Maria Salete Ariozi




A liberdade
é um menino
de todas as cores.

A liberdade
é um guarda-chuva
a apanhar sol.

A liberdade
é um malmequer
a perfumar a própria sombra.

A liberdade
é uma baía
onde mora a poesia.

A liberdade
é uma andorinha
a desenhar a Primavera.

A liberdade
é ter asas e saber
voar com elas, através das janelas.

A liberdade
é a última coisa
que se pode perder.

José Jorge Letria

Escolhas





Maria Cristina





Às vezes tomamos decisões que nos causam arrependimento,
Trocar algo seguro e, aos nossos olhos perfeito, por desafios...
É um sentimento que nos arrasta como a forte onda do mar.
Antes, deixamos o corpo pesado, parado para ela não nos levar,
Mas quando vem a segurança, soltamos o corpo, para provar
A espuma que acaricia o rosto, a sensação de liberdade, a leveza...

De súbito, somos tomados por um susto que acelera o coração,
Pois esquecemos que junto de tanta beleza, de tanta satisfação,
Também sentimos o gosto do mar salgado e a falta de direção.

E agora?

Aguardamos alguém para nos salvar e nos levar de volta?
Ficamos ali, inertes, esperando o mar nos devolver à praia?
Voltamos sozinhos, com braços fortes, prontos para recomeçar?
Ou seguimos, à procura de ondas gigantes para derrotar?

Todas as decisões nos levarão a um só lugar: à nossa essência.

Quem somos?

Esperançosos?
Acomodados?
Persistentes?
Sonhadores?

Sei que eu sou aquela pessoa que desafia ondas gigantes,
Que tenta encontrar estrelas do mar e conchas coloridas...
Sei que nessa minha aventura posso me machucar, ficar sem ar,
Mas acredito que depois dessas ondas que tentam me engolir,
Encontrarei um mar calmo, onde o meu corpo descansará,
O mar acariciará o meu rosto, pássaros cantarão a minha vitória...

Para alcançar os nossos sonhos, não podemos ter medo,
Não podemos desistir, temos de olhar o horizonte, o brilho do sol,
Mesmo que as nuvens pareçam negras e o mar furioso,
Mesmo que tudo mostre o contrário, que tudo pareça naufragar,
Existe “ALGUÉM” na popa do barco cuidando de tudo.

Chris Amag


Baile de máscaras


Jose Carlos Ribeiro




Cheguei sem medo e fui entrando
Aos poucos me aproximando
Do teu coração carente
Parei na tua frente
Você sequer me viu
Sem querer você sorriu
Não sabia quem eu era
Nos teus olhos, a primavera
Como nos campos em flor
No coração, o amor
Dos teus sonhos de quimera

Ao teu lado eu fiquei
Muito tempo, bem perto
O teu rosto coberto
Não me deixava te ver
Mas eu sabia quem era
Os olhos de primavera
Que estavam a florescer
E então você me viu
Teus olhar foi muito além
Teu coração sorriu
E tua boca me chamou
Hoje em você estou
Meu amor enraizou
És minha, de mais ninguém

luis roggia

A Máscara


Mô Schnepfleitner




Eu sei que há muito pranto na existência, 
Dores que ferem corações de pedra, 
E onde a vida borbulha e o sangue medra, 
Aí existe a mágoa em sua essência.

No delírio, porém, da febre ardente 
Da ventura fugaz e transitória 
O peito rompe a capa tormentória 
Para sorrindo palpitar contente.

Assim a turba inconsciente passa, 
Muitos que esgotam do prazer a taça 
Sentem no peito a dor indefinida.

E entre a mágoa que mascara eterna apouca 
A humanidade ri-se e ri-se louca 
No carnaval intérmino da vida.

Augusto dos Anjos

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