PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Noites Brancas



André Alves



Acordei triste
Não é uma tristeza comum
Talvez um ensaio de uma saudade ou de um cansaço de uma noite mal dormida
O sol ainda não me mostrou o dia
Quem sabe o verde esperançoso das folhas colorirá meus olhos
Dar-me-á outro ritmo
As águas dos rios, sempre saudosas, correm
Enchem-se
Minguam
Secam
Mas o leito do rio, que é meu peito, está feito
E, mesmo um filete de água ou de sangue saberá reconhecer esse caminho
Rasgar-se-ão em pedras
Em noites desconfortáveis
Feridos, continuarão pelo seu mar
Para sempre amarem
A escuridão da madrugada não me desloca com segurança
Meu sangue está agora nas minhas palavras
Procuro e ao mesmo tempo não quero de volta o sono
Sei que ele não virá
Não deitarei
Rastejarei pelo véu negro, feito um rio que não vê a hora de sentir o gosto do oceano
De uma coisa eu sei: sendo rio, tenho que fluir, noites e dias sobre pedras que me agitam, acordam-me.
Eu, aqui aceso pela luz de uma lâmpada e de um ou outro bocejar falso
Sinto o cheiro do sal, do sol
Piso na areia
As ondas me empurram pra trás
Não quero meu leito, minha cama
Chegou o momento de desaguar-me
Diferentes, mas desejosos, aceitamo-nos
Orgulhoso, eu, feito agora de luz, bebo um copo d’água, do rio, de mim mesmo
Prosseguirei mesmo com as pedras mais pontudas
Mesmo com noites brancas e incômodas
Somente para temperar-me de você
É dia! 6h20min


André Alves

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