PROSAS EM VERSOS

SER POETA, É SENTIR AFLORAR DA PELE SENSIBILIDADE, É OUVIR O GRITO DOS QUE NADA DISSERAM, É VER POR UMA GAMA DE CORES INVISÍVEIS À MACROSCÓPICA VISÃO DOS INSENSÍVEIS, É PENETRAR IMPIEDOSAMENTE À ALMA HUMANA.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Mundo Pós-Moderno


Helena Pizzo

CORDEL




Apolo Deus da poesia
Clio musa da História
Juntem-se e me ilumine
Dando-me honra e glória
Clareando minhas ideias
Inspirando-me agora.

Com a rapidez de um raio
Peço-lhes, logo inspiração
Agilidade e bons pensamentos
Coerência e visão
Para que nesse momento
Fale de tanta transformação.

Deus pai todo poderoso,
A Santíssima Trindade
Clamo por inteligência
Pra narrar com veracidade
Minha opinião e experiência
Dessa tal pós-modernidade.

Nesse mundo do efêmero,
Do consumismo e da falsidade
O que é belo vira feio,
Nessa tal pós-modernidade
Sem limites, nem freio
De Narcisismo e vaidade.

Aqui a única certeza que temos
É que certezas não há.
É um mundo fluído
Onde tudo se desmancha no ar,
Do material mais sólido
À matéria molecular.

Essa é a Era do Chip
Da TV, dos computadores,
Das armas químicas e nucleares
Dos modismos, dos horrores
Do frenesi, do radicalismo.
Do fanatismo e fervores.

Um mundo intransigente
Onde a paz é estrangeira
O preconceito, a intolerância,
E a violência não tem barreira.
No mundo da informatização
A ignorância é mãe primeira.

A cada dia que passa, cultiva-se
Grande e triste ilusão:
Estar em dia com a moda,
E em atraso com o irmão
Ficando nossa existência
Marcada pela desumanização.

Onde estão nossos ideais?
Foram eles repugnados?
O que aconteceu com Deus?
Será que foi assassinado?
Dom Quixote e Marx,
Foram enfim derrotados?

Respondei quem puder.
Quem tiver consciência:
Onde está Deus,
O que fez dele a ciência?
Trocou-lhe pelo Consumismo
Ou Julgou-lhe por incompetência?

Rei Midas tinha o encanto
De tornar ouro tudo que batia
O capitalismo tem feitiço
De tornar em mercadoria
Deus, liberdade, poder,
Sexo, amor e alegria.

O Capitalismo e a ciência
Juntaram-se com facilidade
Parindo de uma só vez
O erotismo e a publicidade.
Seres extraterrestres:
Humanos da pós-modernidade.

Uma Era de moral hedonista
Do Shopping sedutor
Com luzes, neon e ofertas
Lugar belo, avassalador
Intrínseco ao homem pós-moderno
Convertendo, humano em consumidor.

Venceu o niilismo?
A aventura, o fugaz.
Perderam-se nessa selva
Nossos grandes ideais?
De habitarmos a terra da promissão
Onde todos seriam iguais.

Exagero tornou-se moda
E a moda não tem precedente
Comprar, usar, jogar
Esse é o modelo vigente.
Onde o ser não vale nada
Mas o ter é atraente.

Hoje quem mais vale,
É quem mais tem.
Pobre, liso e humilde,
Não valem um vintém,
Porém, avarentos
Nesse mundo se dão bem.

Nesse mundo fluído
Deus Baco tem vez
Sobriedade é pieguice
Tem valor a embriaguês
Ser honesto é burrice
Preservar é insensatez.

Na Era do simulacro
Ebriedade é rotina
LSD, álcool, maconha
Crack, cola e cocaína
Preenchem um vazio,
Porém nada fascina.

É um mundo torto
Da perveção e pedofilia
Do câncer, do estresse
Da neurose e bulimia
Da obesidade, do divã:
Um tempo de patologias.

Mundo vazio, sem estrutura
Sem referências ou identidade
Sem afeto nem valores
Das plásticas, da vaidade,
Da angústia e do esquisofrenismo,
Do artificialismo e da mediocridade.

Gente sem identidade fixa,
Verdadeiros mutantes
Seres descartáveis e volúveis
Mudam de instante em instante
Disfarçam suas imperfeições
Com cosméticos, plásticas ou implantes.

São folhas secas que vagam
Em meio ao tufão
São homens, ou são feras?
Não sei bem o que são.
Pois se sentem sozinhos
Mesmo diante de uma multidão.

Imersos numa cultura mesquinha
Onde idosos são maltratados
Por jovens indolentes
E adultos mal amados
Que têm filhos inocentes
E são pais já separados.

A família entrou em extinção:
Irmãos e primos não existem mais,
Vozinho ou vozinha
Tios, parentes ou pais
Ficou tudo muito parecido
Com o reino dos animais.

Os pais hoje são assim:
Trabalham pra se acabar
Nem dos próprios filhos cuidam,
Pois quem cuida é a “babá”.
Enquanto esta realidade existe
Como poderemos melhorar?

As crianças só se interessam
Por TV, DVD e celular
Não brincam de Amarelinha,
Esconde-esconde e escorregar,
De toca ou cirandinha,
Pega-pega ou de adivinhar.

Logo cedo já namoram,
Por jogos eletrônicos são fascinados
Vídeo games e violência
São por eles apreciados
Escola, respeito, moral e tradição
São assuntos desprezados.

Crianças precoces
Ou jovens “aborrecentes”
São na verdade,
Indivíduos doentes
Construídos ou inventados
Por uma sociedade sem referentes.

Mp3, ipoid, câmeras digitais,
Cartão de crédito e Internet
Clones, transgênicos,
Lojas, dígitos e satélites.
São nesse mundo
Espécies de vedetes.

Um organoide mecânico foi parido,
Criatura técnica e previsível
Desprovida de calor humano
Robótica e insensível
Feita de signos e dígitos
Afeto pra ele é desprezível.

Monopólio e inconsciência,
egoísmo e ambição
acúmulo de riqueza.
O capitalismo e a globalização
tornam as rendas desiguais
provocam a marginalização.

Nesse mundo de fartura
tem miséria, fome e pobreza.
Esportes, marcas e posses
são sinônimos de riquezas.
Nossa mãe Réia é exaurida
em nome da avareza.

Catástrofes e genocídios
Tornaram-se naturais
Tudo aqui é absurdo
Sobretudo a paz,
Nos acostumam com tudo
Nesse mundo do fugaz.

Vejo o mundo infernal,
Que Alighieri descreveu
Com estupros, sequestros e acidentes
Cujo Caos renasceu
Abriram a caixa de Pandora
E o Apocalipse apareceu.

Não tem mais Parságada,
São Saruê ou Terra Prometida.
É o jardim de Hades
e do diabo suicida
vivos que no inferno ardem
E, José, acabaram-se as saídas.

Nossa sociedade é atroz e sem compaixão
Voyeurista e sádica, imersa em hipocrisia
Faz da dor alheia, sua fonte de alegria
Irradiando a ira e desprezando o perdão
O choro e grito tornaram-se canção
O sonho e vida: tudo foi desprezado
Tudo em nome de um mundo avançado.
Do enxofre já exalo o perfume,
Pois esse mundo tá desacunhado
E não tem mais criatura que aprume.

Nosso mundo regrediu com o progresso
Basta-nos falar das nossas insanidades:
Reality shows, invasão de privacidade
Fama, ostentação são meros regressos
Desigualdade incoerência me deixa possesso
Almas e corpos vendidos e alugados
São características de seres atrofiados
Em que a vida pós-moderna se resume,
Pois esse mundo tá desacunhado
E não tem mais criatura que aprume.

Criaturas malditas tornar-se-iam angelicais
Nesse mundão de meu Deus
Ímpios e descrentes quais os filisteus
Daríamos liberdade novamente a Barrabás.
Os Bórgias, Al Capone, Hitler e Satanás
Seriam ingênuos cordeirinhos desgarrados
Sentir-se-iam logo envergonhados
Teriam náuseas, ou no máximo ciúmes,
Pois esse mundo tá desacunhado
E não tem mais criatura que aprume.

Parece que o Apocalipse se anuncia
Poluição, tsunamis, furacões e terremotos
Acidentes, AIDS e violência deixam mortos
Assim como genocídios e pandemias
E o começo do fim não se adia
Pagaremos com juros nossos pecados
Seremos por nós mesmos vitimados
Feridos pelos nossos maus costumes,
Pois esse mundo tá desacunhado
E não tem mais criatura que aprume.

Tirania e ceticismo,
Hedonista filosofia
Impõe as regras do Mercado
Aumentando as patologias.
Gestos macabros da humanidade
Ofuscam as belezas das tecnologias.

Moramos hoje, em uma Babel,
Aflitos e sem Deus
Recrudescemos nesse vazio
Inquietos qual Zeus,
Naturalizamos a impotência
Habitamos meio à violência
Ocasionando ânsia até em quem já morreu.



de José Tiago Marinho Pereira
Soledade - PB

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