Aníbal Bastos
É Natal!
Quadra festiva,
Alusiva,
À paz e amor!
Em muitas casas,
A lareira acesa,
Projecta o calor,
Saído das brasas
E sobre a mesa,
Há bacalhoada
E peru assado!
É consoada!
E de sobremesa,
Há bolos, mais bolos;
Frutas secas
E outra doçarias!
Para além vinho
Bebidas espirituosas,
Ateiam alegrias!
Canta-se e dança-se,
Na paz do Senhor!
À meia-noite,
Tocam os sinos,
Cantam-se hinos
Ao Salvador!
Evocam-se lendas,
Trocam-se prendas,
Quando se pode!
Natal vulgar!
Familiar!
Mas há casais,
De misérias tais,
Onde o natal
É um dia normal
Sem pinheiro,
Nem presépio,
Sem bacalhoadas,
Nem rabanadas,
E as prendas,
Sem dinheiro,
Ficam nas vendas!
Este natal
Tem outro nome:
Chama-se fome!
Mas há natais,
Diferentes,
Iguais
Às posses das gentes!
Gentes que têm,
Dinheiro e poder,
Vão passar férias,
Felizes contentes,
A países quentes!
E as suas prendas,
São carros de luxo,
Iates, vivendas,
Jóias, diamantes,
Vestidos bordados,
A ouro e brilhantes
Estes são natais,
Desiguais,
Mas fascinantes!
Cá fora,
Na rua,
Há outro natal,
Muito desigual!
A verdade nua,
Dos sem-abrigo
Que num gesto antigo,
Passa a homem-bicho
Partilhando,
Com gatos e ratos,
Os caixotes do lixo,
Rebuscam-se restos,
Que se deitaram fora!
Corpos enregelados,
Tremendo de frio!
Onde,
O vão duma escada,
Faz de morada,
Para pernoitar!
Um pedaço de cartão,
Faz de esteira e cama!
Não há lareira,
Nem fogo!
Nem chama!
Com o bafo da boca,
Ou entre os sovacos,
Aquecem as mãos!
Natais diferentes,
De povos e gentes,
Chamados cristãos!
Como seria,
Se fossem pagãos?
A. Bastos (Júnior)
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