André Alves
Águas
Acordei triste
Não é uma tristeza comum
Talvez um ensaio de uma saudade
Ou de um cansaço de uma noite mal dormida
O sol ainda não me mostrou o dia
Quem sabe o verde esperançoso das folhas
Colorirá meus olhos,
Dar-me-á outro ritmo
As águas dos rios, sempre saudosas, correm
Enchem-se
Mínguam
Mas o leito do rio, que é meu peito, está feito
E, mesmo um filete de água ou de sangue
Saberá reconhecer esse caminho
Rasgar-se-ão em pedras
Em noites desconfortáveis
Feridos, continuarão pelo seu mar
Para sempre se amarem
A escuridão da madrugada
Ah, não me desloca com segurança
Meu sangue está agora em minhas palavras
Procuro e ao mesmo tempo não quero de volta o sono
Sei que ele não virá
Rastejo pelo véu negro
Feito um rio desejoso
Pelo gosto do oceano
De uma coisa eu sei:
Sendo rio, tenho que fluir, noites e dias sobre pedras
Que me agitam, acordam-me
Eu, aqui aceso pela luz de uma lâmpada
E de um ou outro bocejar falso
Sinto o cheiro do sal
Piso na areia
As ondas me empurram pra trás
Receio
Não quero meu leito, minha cama
Deságuo-me
Diferentes, mas desejosos, aceitamo-nos
Orgulhoso, eu, feito agora de luz
Bebo um copo d’água
Do rio
De mim
Mesmo com noites brancas e incômodas
Prosseguirei
Somente para temperar-me de você.
André Alves
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