Vives na triste miséria
Onde há tantos miseráveis
Com uns sorrisos amáveis
Fingindo ser gente séria!
Saiu-te o sangue das veias
E do teu corpo o suor,
Para manter barrigas cheias
De quem te mentiu melhor!
Que importa que passes fome
Nem teres nada neste mundo!
Não passas dum Zé sem nome
Por alcunha: o vagabundo!
Dormes debaixo da ponte,
Ou do vão duma escada,
Pior que um bicho do monte
Que tem a toca abrigada!
Nas ruas pedes esmola!
Já não passas dum mendigo,
Dos que não usam sacola!
És chamado: sem-abrigo!
A barba esconde-te o rosto,
Para ninguém te conhecer,
Ou apenas para esconder,
As marcas do teu desgosto!
Só te apontam os defeitos,
Sem desculpas e sem pausas!
Julgam-te pelos efeitos,
Esquecendo-se das causas!
Talvez um dia, quem sabe,
Noutro mundo diferente,
A tua miséria acabe,
E, comece para outra gente!
A. Bastos (Júnior)
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