Cesar Veneziani
BECO
Conto, num beco, num canto,
a um gato atento e tácito,
com um cinismo mordaz e ácido,
o fracasso de um desencanto.
E o gato, fingindo atenção,
me ouve em silêncio calado.
Não fala sequer um miado,
não quer me passar um sermão!
E eu, todo fraco, abatido,
não ligo: um desabafo desato.
Me xingo, eu me desacato,
num discurso sem sentido.
E o dia, indiferente,
pare a luz e a noite mata,
e a solidão, insensata,
é um gato à minha frente.
(Cesar Veneziani, in "Neblina",
pg. 49, Editora Patuá, 2012)
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