
Aníbal Bastos
SEM ABRIGO
Vives na triste miséria
Onde há tantos miseráveis
Com uns sorrisos amáveis
Fingindo ser gente séria.
Saiu-te o sangue das veias
E do teu corpo o suor,
Para manter barrigas cheias
De quem te mentiu melhor.
Que importa que passes fome
Nem teres nada neste mundo.
Não passas dum Zé sem nome
Por alcunha: o vagabundo.
Dormes debaixo da ponte,
Ou do vão duma escada.
Pior que um bicho do monte
Que tem a toca abrigada.
Nas ruas pedes esmola!
Já não passas dum mendigo
Dos que não usam sacola.
És chamado: sem-abrigo.
A barba esconde-te o rosto
Para ninguém te conhecer,
Ou apenas para esconder,
As marcas do teu desgosto.
Só te apontam os defeitos
Sem desculpas e sem pausas.
Julgam-te pelos efeitos,
Esquecendo-se das causas.
Talvez um dia, quem sabe,
Noutro mundo diferente,
A tua miséria acabe,
E, comece para outra gente.
A. Bastos (Júnior)
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